Esta pesquisa objetiva o estabelecimento de paralelos conceituais entre a Biologia e a Linguística, sendo os conceitos de ontogenia e filogenia a interface de contato. Como objetivo específico, tem-se a proposição de uma leitura historiográfica da Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento à luz da Linguística. Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo e especulativo, na medida em que reveza a apresentação e discussão historiográfica em Biologia, estabelecendo as devidas correlações com a Linguística, e a proposição de paralelos conceituais entre as áreas. O procedimento metodológico se fundamenta na revisão da literatura e na articulação de evidências.
O fim da infância (do latim, ausência de fala) possui duas acepções: em termos de ontogenia (aquisição de linguagem) e em filogenia (surgimento da linguagem no gênero Homo). É de interesse desta pesquisa o fato de que estes termos são empregados também na Biologia.
Em contexto da teoria darwiniana nascente, Ernst Haeckel propôs que a ontogenia é a filogenia: as etapas do desenvolvimento embriológico recapitulam a progressão da filogenia. Para a Linguística, isso implicaria na aquisição como um espelhamento do processo evolutivo que culminou na faculdade da linguagem (FL) em Homo. Selecionadas evidências fisiológicas e cognitivas (HAUSER, CHOMSKY, FITCH, 2002) ajudariam a sustentar essa proposta (e.g., altura da laringe em infantes humanos e em chimpanzés).
Ao começo do séc. XX, a Lei Biogenética passou a cair em descrédito e a Evolução, a se somar à Genética. O entendimento do genoma como o repertório de entidades mensuráveis, combináveis e herdáveis pode ser colocado em paralelo à Gramática Universal (GU), que explica a aquisição como a derivação de princípios inatos, e o surgimento da FL como uma novidade evolutiva, rompendo a lógica recapitulacionista.
De meados do séc. XX ao XXI, a descoberta da grande preservação genética entre as espécies e o avanço da Genética Molecular limitaram a ideia de gene do neodarwinismo ortodoxo, motivando frentes como a Biologia Evolutiva do Desenvolvimento (Evo-Devo). Para a Linguística, o desenvolvimento da Biolinguística impôs restrições à riqueza da GU, de modo que a Linguística hoje se dedica a adequar a aquisição à viabilidade biológica da FL.
HAUSER, M.; CHOMSKY, N.; FITCH, W. T. The faculty of language: What is It, who has it, and how did it evolve? Science, v. 298, 2002, p. 1278-1280.
(Apoio: CNPq – Processo: 303461/2017-9)