Nesta pesquisa, desenvolvida sob orientação da Prof.ª Dr.ª Fernanda Miranda da Cruz e co-orientação da Prof.ª Dr.ª Ana Carina Tamanaha, investigamos ocorrências de repetições na fala de duas criança com TEA, levando em consideração o ambiente interacional e sequencial em que emergem. O autismo é descrito clinicamente como uma condição que afeta o desenvolvimento neurocognitivo e que compromete, em formas e graus distintos, o engajamento do sujeito na construção conjunta da atenção, das ações e na participação em interações sociais (Lai e Baron-Cohen, 2014).
Esta pesquisa desenvolveu-se no quadro do projeto “AO MÍNIMO GESTO: Estudos dos recursos multimodais (aspectos verbais, gestos, corpo e mundo material) nas interações envolvendo crianças com TEA” (FAPESP 2018/07565-7), coordenado pela pesquisadora Fernanda Cruz e que se dedica a compreender papéis que gestos e corpo desempenham nessas interações. Os dados para a realização do estudo de caso a ser apresentado foi gerado de interações naturalísticas entre pai e filho autista durante atividades de consulta e terapia realizadas no Núcleo de Investigação Fonoaudiológica em Linguagem de Crianças e Adolescentes com Transtorno do Espectro Autista, do Departamento de Fonoaudiologia da UNIFESP.
As produções de repetição foram analisadas não apenas verbalmente, mas multimodalmente (MONDADA, 2016; KOKIAKANGAS, 2017) coordenadas às ações não-verbais, tal como direcionamento de olhar. Tais ocorrências têm sido analisadas a partir de uma perspectiva sociointeracional de estudo da linguagem no TEA (OCHS e SOLOMON, 2010; STERPONI, KIRBY e SHANKEY, 2014; STERPONI e KIRBY, 2015) cotejados aos estudos clínicos tipológicos sobre repetições (STERPONI e SHANKEY, 2014; PRIZANT e RYDELL, 1984; PRIZANT e DUCHAN, 1981). Em termos metodológicos-analíticos, fizemos uso do software ELAN (Wittenburg et al, 2006, versão 5.5) combinado ao software PRAAT (Paul Boersma & David Weenink, 2018) para notação e transcrição dos dados audiovisuais e posterior análise dos aspectos prosódicos dessas produções. Nossa análise mostrou ser pertinente para a compreensão das funções linguístico-interacionais de algumas dessas produções ao voltarmos nossa atenção para latência, pitch e intensidade correlacionados aos aspectos corporais que precedem, sucedem ou acompanham as repetições. Esta investigação tem nos sugerido a possibilidade de reconhecermos padrões interacionais específicos ou sistematizáveis de uma criança com TEA que faz uso das repetições para organizar-se internacionalmente.