No que se refere à formação sociohistórica, sabemos que o território de Porto União (Santa Catarina) começa a ser ocupado em 1842, com a descoberta de uma região de pouca profundidade do Rio Iguaçu, que facilitava a passagem de tropas; porém o município só é criado oficialmente em 1917, como consequência do acordo de limites entre Paraná e Santa Catarina. Este trabalho busca descrever, portanto, o comportamento linguístico dos falantes de Porto União (PU), relativamente aos tipos de realização do rótico em coda silábica final (incluindo a possibilidade de cancelamento) – tanto em verbos (manejaR ~ manejaØ) quanto em não-verbos (floR~ floØ), e compará-lo ao de Florianópolis (capital de SC) e ao de outras cidades do interior do estado já estudadas. A cidade está localizada a aproximadamente 460 km da capital e, sendo bastante interiorana, em hipótese, pode apresentar comportamento diferenciado em relação à Florianópolis. Este é um estudo variacionista que toma como base o aporte teórico-metodológico da Sociolinguística quantitativa (LABOV, 1994) e da Teoria da Fonologia Prosódica (NESPOR&VOGEL, 2007), para a investigação dos fatores linguísticos e sociais atuantes no processo de diferenciação e cancelamento do R (análise estatística: GoldVarb X). São utilizadas amostras de fala semiespontânea do Projeto ALiB, de indivíduos com o ensino fundamental (completo ou incompleto), estratificadas por sexo (masculino e feminino) e idade (18 a 30 anos e 50 a 65 anos). As variáveis linguísticas consideradas são as seguintes: classe morfológica (verbos e não-verbos), dimensão do vocábulo com R final (monossílabos e polissílabos), vogal do núcleo (cada uma delas), contexto fonético subsequente (consoante e pausa) e fronteira prosódica em que se encontra o rótico (palavra prosódica, sintagma fonológico e sintagma entoacional). Os resultados preliminares mostram que a aproximante retroflexa é a variante do rótico mais frequente em Porto União, tanto para verbos como para não verbos, diferentemente do que acontece em Florianópolis em que prevalecem as variantes fricativa velar e tepe. O apagamento do R em verbos é de 94% e em não verbos é de 18%, em PU. Na categoria dos verbos (Input geral: 0.94), os resultados parciais indicam que os vocábulos polissílabos favorecem a aplicação da regra de cancelamento (P.R 0.55). Já na categoria dos não verbos (Input geral: 0.18), os homens mostram um comportamento mais inovador (P.R 0.74) e a vogal média “é”, com traço [+ant], se mostrou mais propensa ao apagamento (P.R. 0.87).