Integrando a Sociolinguística Quantitativa (Labov, 1994) à Teoria da Fonologia Prosódica (Nespor & Vogel, 1986), o trabalho em tela visa analisar o processo variável de cancelamento do rótico em coda externa (fazeR ~ fazeØ, mulheR ~ mulheØ) nas comunidades fronteiriças de Chuí e Santana do Livramento, ambas no Rio Grande do Sul, e registrar, também, as variantes produzidas. Pesquisas anteriores mostram que, nos verbos, o apagamento é praticamente categórico enquanto, nos não verbos, os índices ainda são baixos. Observamos se tal cenário se estende a essas duas comunidades fronteiriças, e mapeamos quais condicionamentos sociolinguísticos licenciam o apagamento. São utilizadas amostras de fala semiespontânea do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), de quatro informantes por município, estratificadas por sexo (masculino e feminino) e idade (18 a 30 anos e 50 a 64 anos); todos falantes monolíngues do PB com ensino fundamental (completo ou incompleto). Contralamos estatisticamente (Programa GoldVarb X) a atuação das seguintes variáveis: 1) classe morfológica (verbos e não-verbos) e 2) dimensão do vocábulo (monossílabos e polissílabos), 3) contexto fonético antecedente (qualidade da vogal), 4) contexto fonético subsequente (consoante ou pausa), 5) tipo de fronteira prosódica (palavra prosódica, sintagma fonológico ou sintagma entoacional), 6) sexo, 7) idade e 8) origem geográfica do(a) falante. No que concerne ao Chuí, os resultados indicam que as variantes mais produtivas são o tepe alveolar e a aproximante retroflexa. Ademais, as rodadas estatísticas mostram que os índices de aplicação da regra em verbos e não-verbos são de, respectivamente, 94% (input .94) e 25% (input .25). As variáveis apontadas como favorecedoras para o cancelamento entre os verbos são a qualidade da vogal do núcleo, sendo [a] e [e] as que mais favorecem (P.R. .64 e .52, respectivamente), e o contexto subsequente de consoante (P.R. .60). Para os não verbos, no entanto, apenas esta última variável foi selecionada, com P.R. também de .60. Relativamente à Santana do Livramento, o tepe alveolar se mostrou a variante favorita. As rodadas estatísticas indicam, em verbos, um índice de cancelamento de 97% (input .97) e, para não verbos, apenas 12% (input. 12). Enquanto nenhuma variável se mostrou favorecedora à aplicação da regra variável nos não verbos, na classe verbal, apontou-se a qualidade da vogal do núcleo como favorecedora, sendo [e] a que mais favorece a perda segmental, com P.R. de .71. Ademais, a faixa etária do(a) informante também se mostrou relevante, com falantes mais jovens favorecendo o fenômeno (P.R. .78).