Este trabalho analisa o processo fonético-fonológico denominado metátese na variedade do noroeste paulista. Por meio desse fenômeno, ocorre a “inversão na ordem linear dos sons sob certas condições” (HORA; TELLES; MONARETTO, 2007, p. 178). Essa transposição de segmentos dentro de uma palavra é um fenômeno antigo na língua portuguesa (ARAÚJO, 2011) e pode ser classificada como (SÁ NOGUEIRA, 1958, apud HORA; TELLES, 2019): (i) metátese progressiva, em que ocorre o deslocamento do segmento da esquerda para a direita, como em “pra.to” > “pa.tro”; (ii) metátese regressiva, que corresponde à transposição da direita para a esquerda, como em “sa.tis.fa.ção” > “sas.ti.fa.ção”; e, por fim, (iii) metátese recíproca, quando dois segmentos invertem a posição, como, por exemplo, em “a.ce.ro.la” > “a.ce.lo.ra”. Embasando-se nos pressupostos da Teoria da Variação e Mudança Linguística (LABOV, 2008 [1972]), que compreende a língua como um sistema heterogêneo, variável e social, foi realizada uma pesquisa sincrônica em tempo aparente. Para a análise, foram investigadas 48 entrevistas retiradas do banco de dados IBORUNA (Projeto ALIP - GONÇALVES, 2019 [2007]), que conta com amostras de fala espontânea do interior paulista. Após a seleção das amostras, com o auxílio dos arquivos de transcrição ortográfica do banco de dados, foi realizada uma análise de oitiva dos arquivos sonoros. Coletadas todas as ocorrências de metátese presentes nas entrevistas, procedeu-se à tabulação dos dados. Como resultado, foram encontradas 17 ocorrências de metátese com o rótico /R/, como em “dro.mir”, e uma ocorrência com vogais, “fi.bra.mol.gi.a”, totalizando 18 casos de metátese. Desses casos, 11 são metátese progressiva, como em “a.co.bra.ci.a”, seis regressiva, “dro.mir” e uma recíproca, “fi.bra.mol.gia”. Observou-se, também, que as 17 ocorrências envolvendo o /R/ são de metátese perceptual, sendo oito tautossilábica, “por.por.ção”, e nove heterossilábica, “a.co.bra.ci.a”. Em relação às variáveis extralinguísticas, o fenômeno teve maior aplicação na fala de informantes do sexo/gênero masculino; com a faixa etária superior a 55 anos; e com nível de escolaridade referente ao 2° Ciclo do Ensino Fundamental, o que parece fornecer indícios de estigma social em relação à aplicação do fenômeno.