Com base em pressupostos teóricos dos Novos Estudos de Letramentos (New Literacy Studies) e da Análise do Discurso de linha francesa, este trabalho tem como objetivo estudar a imagem de um leitor modelo (MAINGUENEAU, 2013) projetada pelo serviço de checagem de fatos “Saúde sem Fake News”, do Ministério da Saúde do governo brasileiro, a partir de argumentos utilizados em devolutivas do serviço à população, no combate à infodemia (ZARACOSTAS, 2020), segunda mazela pandêmica da COVID-19 no Brasil, nas palavras de Galhardi et al. (2020, p. 4202) Esse serviço, que teve início em 2018, dedicou a maioria de suas checagens no ano de 2020 a informações sobre a COVID-19, advindas de mensagens reencaminhadas por WhatsApp por cidadãos interessados em saber se se tratava de fato verdadeiro, falso ou enganoso. O conjunto do material, formado por 86 produções textuais verbo-visuais, produzidas entre janeiro e julho de 2020 e disponíveis na página eletrônica e nas redes sociais do Ministério da Saúde, permite refletir sobre a qualidade da resposta institucional apresentada ao público, no que diz respeito ao(s) motivo(s) pelo(s) qual(is) os fatos checados receberam o selo de “Isto é fake news!” ou “Esta notícia é verdadeira”. Observou-se no estudo que, quando certa informação checada pertence à mesma classificação de conteúdo temático de outra informação checada anteriormente – em sua maioria, teorias da conspiração, métodos caseiros de prevenção e métodos caseiros de cura da COVID-19 –, a devolutiva do serviço tende a apresentar trechos de respostas semelhantes ou idênticas a dessas notícias anteriores, retomando, apenas pontualmente, o fato efetivamente checado. De um ponto de vista discursivo que nos permite considerar as condições sócio-históricas de produção dos sentidos, busca-se investigar qual é o leitor modelo projetado pelo Ministério da Saúde do governo brasileiro, levando-se em consideração um produsuário (BRUNS, 2006) da Web 3.0, isto é, misto de produtor e usuário de conteúdos. Interessa a este trabalho refletir sobre como/se as “advertências” apresentadas pelo “Saúde sem Fake News” contribuem para a promoção de letramento científico e educação para a saúde na chamada era da pós-verdade, em que o apelo às crenças e emoções pessoais mostram-se mais influentes na formação da opinião pública do que fatos objetivos (McINTYRE, 2018). Apoio: CNPq/PIBIC 103930/2021-3.