Relações entre características fonéticas e fonológicas da língua e características ortográficas da escrita de crianças do (atual) Ensino Fundamental I têm recebido certa atenção no campo dos estudos linguísticos, uma vez que características fonéticas e fonológicas da língua são capazes de explicar grande parte das dificuldades observadas na ortografia infantil. Uma dessas dificuldades, as omissões ortográficas, são frequentemente mencionadas nesses estudos. No entanto, as omissões são pouquíssimo estudadas enquanto objeto específico de investigação. Investigá-las de modo específico é a proposta do presente estudo, cujo objetivo é verificar em que medida as omissões ortográficas dependeriam da posição que os grafemas ocupam na estrutura da sílaba ao longo do Ensino Fundamental I. Os dados foram extraídos de 111 produções escritas de crianças, matriculadas em uma escola pública do estado de São Paulo, que frequentavam o 1°, o 3º e o 5° anos desse Ensino. Essa escolha se deu por essas turmas corresponderem ao início e ao fim do Ciclo I do Ensino Fundamental I (1º e 3º ano) e ao ano final do Ciclo II do Ensino Fundamental I. Foram quantificadas todas as omissões nas posições silábicas que compõem a investigação (ataque simples, núcleo simples e coda simples) e divididos conforme sua ocorrência no 1°, 3° ou 5° anos. Posteriormente, foram comparados os resultados obtidos para esses três anos, visando detectar possíveis mudanças na configuração das omissões conforme a progressão escolar. Relativamente a essa progressão em relação às posições silábicas, os resultados mostraram o seguinte percentual de distribuição das omissões: ataque (8,1%, 4.9% e 15,9%); núcleo (18,5%, 9,4% e 15,9%); coda (73,4%, 86,7% e 68,1%). Esse conjunto de resultados mostra: (1) predomínio das omissões na coda; (2) movimento não linear da distribuição das omissões, no sentido de que elas diminuíram gradativamente com a progressão escolar nas posições silábicas investigadas. Como se pode observar, há aumentos e diminuições ao longo do Ensino Fundamental, os quais variam em função da posição silábica em que eles ocorrem. O predomínio das omissões na coda se explica pelas suas características fonético-fonológicas, já que se trata de uma posição complexa da estrutura silábica, nem sempre existente nas diferentes línguas do mundo e de aquisição tardia. Já o movimento não linear da distribuição das omissões se explica pelas diferentes relações entre posições silábicas e fenômenos como os da variação fonológica e do sândi externo.