Obra: Espaço comunicativo e fratura social
Autoria: Luciana Salazar Salgado e Jaime Oliva
Editora: Fino Traço
Ano de publicação: 2020
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Apresentação:
Os textos reunidos neste livro foram escritos em momentos diferentes, mas, juntos, constituem as linhas de força de um programa de pesquisa que a partir deles se firmou. Os temas que os percorrem referem-se à constituição e às operações do espaço comunicativo nas sociedades contemporâneas, com foco no Brasil. Refletimos sobre as redes digitais e sobre o sistema midiático tradicional, discutindo fundamentalmente ações comunicacionais que alimentaram a fratura social atualmente vivida.
Um dos elos de nosso encontro interdisciplinar é o geógrafo Milton Santos. Esse autor, cujo acervo documental e bibliográfico encontra-se no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), é um dos pioneiros, nas Humanidades brasileiras, na caracterização do atual período e na reflexão profunda sobre a tecnoesfera que nos envolve no mundo que se constituiu no pós-Segunda Guerra Mundial. Mundo esse constituído por essa mesma tecnoesfera que produz, visto que, segundo o autor, à tecnoesfera corresponde uma psicoesfera, um conjunto de crenças, valores e toda sorte de sentimentos experimentados na vida vivida, na sua relação com os objetos técnicos que a organizam e que, ao mesmo tempo, são por ela organizados – hierarquizados, valorados e eventualmente transformados nos seus usos e intencionalidades.
A convergência e a ampliação de nossas reflexões conjuntas contaram com mais dois elos fundamentais nessa posição teórica que fomos assumindo diante das relações entre discurso e espaço: o sociólogo Hermínio Martins e o midiólogo Régis Debray.
O interesse dessa abordagem é que, sublinhada a não neutralidade dos objetos e de seus fluxos no espaço, põe a técnica no centro das discussões sobre cultura, procurando descrever conjuntos de objetos que sustentam ritos consagradores de modos de dizer. Tomados os objetos como mediadores (médium, ou mídium na tradução brasileira), entende-se como uma ideia se torna força material, produzindo psicoesferas.
Com essas referências epistemológicas, o marco de nosso encontro foi a crise política brasileira que começava a revelar um novo perfil surpreendente a partir dos anos 2013 e 2014. Crise política ao pé da letra, crise do regime democrático representativo e das instituições políticas concretas, como os poderes eleitos, as formas eleitorais, os partidos políticos e do próprio sistema midiático. Sobre essas bases, propusemos algumas interpretações de certos eventos da história recente do país e esperamos, com isso, participar da ampla reflexão necessária, que poderá nos levar a entender melhor as trocas comunicacionais do tempo presente.
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